sexta-feira, novembro 26, 2010

post-it a dois.

pisamos onde não podiamos
pescamos
achamos um diamante negro
rimos
jantamos
quebrei um copo
ganhei um beijo.

domingo, agosto 29, 2010

post it do não-vivido

Antes de se recolher, guardou ali no criado-mudo, um pequeno caderno de papel pardo, onde registrava com letra miuda ranhuras do afeto recebido e do amor esperançado, o amor que não vingou.

quinta-feira, março 25, 2010

O sapato cor-de-rosa.

Meio-dia e um de um dia quente e nublado.
Trânsito confuso.
Era um corpo estendido no chão em plena avenida Catalão.
Uma lona plástica e preta cobria o corpo ainda quente e só me permitia ver os sapatos.

Era um par de sapatos simples e cor-de-rosa.
Rosa velho. Um branco sujo de rosa.
Traziam uma elegância simples, legítima.
Um esboço de romantismo.
Sapatos desta cor devem pertencer a alguém que sonha, constrói castelos, espera unicórnios e talvez imagine bicórnios.

Aquela imagem ainda está em mim. O retrato da impermanência.
A prova material da transitoriedade.
Acordara naquela manhã e calçara os sapatos. Saiu e não chegou ao seu destino.

Será que um outro alguém a esperava? Será que tinha aquilo que se chama de lar? Será que foi amada? Será que amou?
Teria sonhos? Viu o mar? Conhecia Veneza? Será que leu A hora da estrela?
Será que foi feliz? Será que fez alguém feliz? Gostava de passarinhos? Teria um jardim? Teria sentido uma gota de chuva gelada em sua nuca quente? Esperaria pelo vento?
Será que viu o céu cinzento? Tomou café aquela manhã?
O que viu ao tentar atravessar a rua?
E se fosse eu? O que teria feito antes da vida parar?

Apenas sei que ela nunca mais voltaria para casa e que seus sapatos eram algodão-doce desbotado, singelos demais para o dia em que por mais que se tente o coração já não responde porque já não pode ouvir.
Desejo que tenhas sido feliz.

domingo, dezembro 20, 2009

para a menina no balcão

agora é o tempo do vazio
a hora de se esvaziar de mim mesmo
de expirar
para inspirar assim que estiver pronto.
vou tomar vento e ver o céu.

segunda-feira, setembro 07, 2009

Post- it olhos-coração

Tudo o que você sussura graficamente em meus olhos
quem escuta é meu coração que segue preenchendo os ocos.
Meu coração é astigmata, míope, daltônico.
Apenas deduz e segue confuso.
Não há oftalmologista ou cardiologista que consiga reparar os danos.

terça-feira, junho 02, 2009

Onde vivem meus dragões.

Há mais de um ano resolvi mudar de ninho. Ninho é o lugar onde moro – aquilo que muitos chamam de lar – parede, chuveiro, cama, mesa, comida, chuveiro, bicho, aconchego.
A procura e a reforma durou mais de um ano. A escolha é difícil pois é a definição do lugar para onde se quer voltar.
Vasculhei ninhos habitados e inabitados, habitáveis e inabitáveis. Imaginei histórias e criei personagens a partir das referências daqueles lugares.
E tive que aprender a administrar o trabalho do pedreiro, pintor, marceneiro, eletricista, bombeiro. Eram poucas as opções e não fiz boas escolhas.
Tudo demorou bem mais que prometeram e a partir de então passei a me sentir refém destas pessoas. Sofri e entendi que para lidar com alguns profissionais você deve se blindar ao máximo. E entre erros e acertos quando a mudança chegou o pintor deu a última pincelada e disse que estava lelete – com ele aprendi que isso quer dizer ótimo - e se foi, praticamente expulso pela mudança.

Foram 10 anos exatos [nenhum dia mais, nem menos] vivendo no mesmo ninho. Enquanto assisti a retirada da mudança, todas as lembranças passaram pela minha cabeça e me despedi de cada uma delas. Aquele lugar despido dos meus objetos já não tinha nenhuma identidade além das cores que deixei nas paredes. A partir de então só existe na minha memória e na daqueles que por lá passaram.
No blog amigo tem fotos da ocasião da despedida:

http://retrosariamoda.blogspot.com/2009/03/era-uma-casa-muito-engracada.html

E com a mudança eu também me fechei para reforma.
Dediquei-me a sala de aula, ao confinamento e as pequenas sutilezas esquecidas. Desliguei o som, a televisão, os telefones, a internet, o interfone e a campainha - silêncio absoluto para ouvir o congresso dos meus dragões.
Dei um novo destino a tudo que não me servia mais – papeis, panelas, pessoas.
Chega um tempo que relacionar torna-se preservar a fidelidade ao encanto vivido com quem foi indispensável um dia, para que ainda possa existir algum encanto que justifique o encontro. E tento conviver com a temporalidade e a impermanência que se fazem presentes quando menos se espera.

Fiz aniversário um dia depois da mudança.
Acordei ‘estranho no ninho’, como se fosse um hóspede de mim mesmo.
Estive alheio ao aniversário, ao carinho não.
Estar ausente possibilitou repensar o que é estar em minha companhia. Tentei perceber como sou percebido. Entendi que para algumas pessoas eu só existo no ambiente virtual - para elas ao vivo e a cores sou quase invisível. Para outras minha existência em qualquer lugar é indiferente. Talvez eu seja mesmo esquisito, mas sou assim desde zigoto...
E também descobri que alguns gostam muito de mim – eles souberam domar meus dragões e descobriram que no meu reino de faz-de-conta ainda guardo flamingos, pôneis, carneiros, pinguins. Sabem que lá os desaniversários são sempre mais importantes.
E depois de algumas escolhas, as paredes são brancas, o papel de parede é rosa sujo, rosa velho, “rosa cor de sorvete de massa” como escreveu minha mais nova amiga de infância.
Do meu quarto vejo passarinhos e a incidência do sol de outono.
Meus dragões estão presos. Minha vida agora é caderno novo.


A todos aqueles que permaneceram sem nenhuma cobrança, que sentiram minha falta e fizeram com que eu não me sentisse solitário mesmo estando sozinho.

domingo, novembro 30, 2008

Antropofagia infantil

Ontem ganhei jambos - minha diarista que tem o mesmo nome da minha mãe e está comigo há 15 anos, trouxe de uma fazenda.
É uma fruta que tem cheiro e gosto de perfume, pelo caule saem uns fios que me fazem lembrar as antenas de um inseto e de brincos-de-princesa.
É bonita, lúdica, doce. Tem uma textura diferente e faz clôc - quando o oco da fruta encontra os dentes do seu desejo.
Quando criança era minha fruta predileta.
Devorei minha saudade e o menino que fui um dia.


este mini-texto vai para Iêda que me trouxe os jambos e para Miki pelo incentivo em dias de ciclone

sexta-feira, novembro 14, 2008

Post-it esfolado

Tem sempre um muro lembrando que eu vou me esfolar inteiro.
Mais cedo ou mais tarde[geralmente mais cedo] perco o equilibrio e sigo esfolando tudo entre os chapiscos.
E não vou parar, sigo inventando uma vida acolchoada.

domingo, outubro 05, 2008

Post-it no muro

Meu coração é poleiro aberto.
Quero a coisa mais simples dessa vida - ciscadinho de passarinho.

domingo, setembro 28, 2008

Post-it usado

Meu rádio não sintoniza as estações do ano.
As teclas já se apagaram e isso faz com que eu confunda tudo.
Danço desconexo.